segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Faltam obras e sinalização em região "campeã" em áreas de risco em SP


Rachaduras em casas são as principais queixas de moradores de M’Boi Mirim

A região que concentra o maior número de áreas de risco de deslizamento na cidade de São Paulo não conta com sinalização e o atendimento à população, no que diz respeito à questão habitacional, é precário. A reportagem do R7 visitou nesta semana cinco dos 50 pontos de risco da Subprefeitura M’Boi Mirim (zona sul) apontados em mapeamento feito pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) a pedido da Prefeitura de São Paulo.

Só em um dos locais visitados havia obras de contenção, cuja conclusão está há quatro meses atrasada. A prefeitura diz, por meio de nota, que obras estão previstas na região.

Nenhuma das áreas de encosta visitadas possui sinalização alertando para o risco de deslizamentos. Durante o lançamento do mapeamento na segunda-feira (21), o secretário de Segurança Urbana, Edsom Ortega, afirmou que as 407 regiões foram sinalizadas, mas que algumas dessas placas já haviam sido arrancadas. Por sua vez, os 14 moradores de M’Boi Mirim ouvidos pelo R7 afirmaram que nunca houve qualquer tipo de aviso demarcando as áreas de risco.
A reportagem encontrou somente uma placa da prefeitura que anuncia "Execução de obra em área de risco do Jd. Dulce", com início em 23 de junho e término previsto para 21 de outubro de 2010. Entretanto, o canteiro de obras ainda está aberto.
Segundo Milton Vito, que se apresentou como responsável pelo trabalho, as construções de uma escadaria e de um canal para escoar a água da chuva só devem ser concluídas em março ou abril deste ano. Essa foi a única obra encontrada, apesar de os outros locais visitados terem problemas de infraestrutura. Nos morros da avenida Itália e da rua Hungria, diversas casas apresentam rachaduras. Algumas delas têm o selo do programa municipal Mananciais, mas os moradores dizem desconhecer ações do projeto no local.
A empregada doméstica Terezinha Ferreira mora em uma das casas com rachaduras na parede e etiquetadas pela prefeitura no começo do ano passado. Ela vive com seis filhos em um barraco que "estala sempre que chove". Ao lado da residência, há uma fossa de esgoto aberta. Terezinha diz que com o auxílio-aluguel, prometido pela prefeitura há um ano, se mudaria da área.

– Eu fico sempre preocupada quando chove. O chão fica afundando, surgem uns buracos. O que dá para fazer é pôr a criançada para cima da cama e rezar.

Vizinho de Terezinha, o aposentado José Farias Bastos espera o desenrolar do programa Mananciais. Ele também aguarda auxílio da prefeitura para se mudar.

– Eles vieram aqui, interditaram, falaram que a gente ia ter que sair... Mas eu vou morar onde?

É consenso entre os moradores: a Defesa Civil só aparece depois que a tragédia acontece e não há nenhum tipo de fiscalização ou monitoramento das áreas de risco.

A catadora Maria Eurides Santos relata ter ouvido de agentes da prefeitura que, em 30 de janeiro passado, receberia um novo lugar para morar. Entretanto, diz ela, a promessa não foi cumprida. Há três anos, ela mora em uma casa cheia de rachaduras, ao lado de um monte de lixo que atrai ratos e insetos.

– [A prefeitura] falou que ia dar auxílio-aluguel, mas até agora nada.

O professor do curso de engenharia civil da universidade Anhembi Morumbi Mauricio Costa Cabral da Silva concorda que a região de M'Boi Mirim é "problemática". Ele diz que a prefeitura não consegue vencer a demanda dos assentamentos irregulares, o que dificulta a implementação de uma política pública.

O professor alerta que é necessário pensar a questão das áreas de risco observando também o entorno.
- De nada adianta trazer saneamento básico para as famílias pobres sem fazer com que o sistema todo comporte o aumento do escoamento.
R7

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