quinta-feira, 3 de julho de 2014

Prefeitura do RN doará leite de jumenta para deficientes nutricionais

 

A polêmica do consumo da carne do melhor amigo do sertanejo chegou à esfera nacional. Mas apesar da enxurrada de posições contrárias a essa alternativa para os jumentos abandonados no interior do Rio Grande do Norte – inclusive manifesta em abaixo-assinado subscrito por mais de 71 mil pessoas – o promotor da comarca de Apodi, Sílvio Brito, mantém seus projetos para dar algum destino a esses animais. Uma das iniciativas visa oferecer leite de jumenta a pessoas com deficiência nutricional. 

Em função da polêmica sugestão de oferecer a carne de jumento nas refeições em escolas públicas e presídios, a Câmara dos Deputados realizou uma audiência pública com vários defensores desses animais ontem (1), em Brasília. Algumas alternativas foram apresentadas pelos grupos.

Mas para o promotor, que não participou da audiência. “Eles apresentaram outras soluções, mas ao meu ver todas são inviáveis”, opinou o promotor. Uma das soluções apresentadas pelos grupos contrários ao consumo dos asnos apontou a possibilidade de os animais serem usados para a terapia com pessoas. “O problema é que a ambientalista que sugeriu isso disse que não tinha clínicas com equoterapia aqui no Rio Grande do Norte. Mas vamos imaginar que houvesse essas clínicas, quantas delas seriam necessárias para absorver todos esses animais? Estamos falando de milhares de jumentos, não são somente centenas”, contra-argumentou Brito.

Segundo o promotor, o IBGE tem um estatística que mostra que o Brasil possui 900 mil jumentos e 90% deles estão no Nordeste. Ainda conforme o membro do Ministério Público Estadual, não há uma estimativa exata para a população desses animais. Outra possibilidade levantada pelos ambientalistas é o retorno do uso desses animais para a tração de carroças e arado. “Para mim é uma ideia meio infantilizada, não tem como convencer um homem do campo a querer voltar para trás. Isso seria marchar na contra mão da história”, analisou Sílvio Brito. 

Em grande medida, a ascensão social ocorrida, inclusive na zona Rural do Brasil, acabou por deixar os jumentos em último plano. Muitas das funções desses animais, agora são feitas por motocicletas. Para o promotor, com as facilidades oferecidas por máquinas de arado, os produtores dificilmente retomariam o uso daquele que já foi o seu melhor amigo.

O segundo promotor da comarca de Apodi também não vê viabilidade na proposta do bolsa-jumento para quem adotar um bicho. “Quem iria arcar com isso? Seriam milhões de reais. Acho que as soluções apresentadas têm que ser economicamente viáveis”, avaliou.

Além disso, legalmente os defensores dos jumentos afirmam que nenhum abatedouro sem o certificado do Serviço de Inspeção Federal (SIF) poderia matar os jumentos. Mas a interpretação jurídica do promotor das normas sanitárias para essa atividade é que não seria necessário. “Eles falam isso porque o único abatedouro com SIF mais próximo do Rio Grande do Norte fica em Minas Gerais. Mas um abatedouro com SIF é mais direcionado para carnes de exportação”.

A ideia de se oferecer a carne de jumento começou depois que a comarca da Apodi começou a recolher os animais das rodovias. Segundo o promotor, em três anos cerca de 100 acidentes envolveram um animal. Hoje, a comarca do município possui aproximadamente 900 jumentos em propriedades privadas, de pessoas que cederam o espaço para isso. O gasto para a manutenção desses animais tem sido de R$ 10 mil. “Essas pessoas [que criticam] nunca vieram aqui trazer um saco de milho para esses animais. Elas deviam ter gasto o dinheiro das passagens para Brasília em algum benefício desses animais”, criticou o promotor.

Leite de jumenta

Enquanto a discussão ganha corpo nas redes sociais e Brasil afora, a Prefeitura de Felipe Guerra, 328 quilômetros de distância de Natal, fechou uma parceria para utilização das jumentas. Cerca de 12 delas vão oferecer o seu leite para pessoas com problemas com deficiência nutricional. Os animais utilizados foram selecionados entre os 900 apreendidos. Segundo o promotor, esse leite será prescrito pelo médico da família e o fornecimento operacionalizado pela secretaria de saúde do município. “São idosos, pessoas com doenças crônica e crianças subnutridas”, falou sobre os pacientes que poderão receber esse tipo de leite.

“O leite de jumenta tem 60 vezes mais vitamina C que o leite de vaca, tem mais proteína e 1/3 da gordura do leite da vaca”, disse o promotor sobre as propriedades do leite de jumenta. A estimativa dele é que sejam produzidos entre 10 e 12 litros por dia a partir do próximo mês. Os detalhes foram acertados ontem em uma reunião entre o promotor e o município.

Fonte: O Jornal de Hoje via Blog Jaldesmar Costa 

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