terça-feira, 7 de julho de 2015

Número de vítimas de imagens íntimas vazadas na web quadruplica em 2 anos

Foto: Internet

Da Folha de São Paulo

O número de vítimas de vazamento de "nude selfies", ou vídeos íntimos divulgados sem consentimento, quadruplicou no Brasil em dois anos. No ano passado, 224 internautas procuraram o serviço de ajuda da SaferNet, organização de defesa de direitos humanos na web, para denunciar o crime cibernético conhecido como "revenge porn" - pornografia de vingança, em tradução livre. Em 2012, 48 casos haviam sido registrados pela entidade.


O vazamento de imagens íntimas atinge principalmente mulheres, que representam 81% dos casos denunciados. A cada quatro vítimas, uma delas é menor de idade.

Morosidade
Para Juliana Cunha, coordenadora psicossocial da SaferNet, a lentidão e a dificuldade para punir o responsável pelo vazamento das imagens são fatores que contribuem para que os casos continuem crescendo - apesar de o número da ONG ser expressivo, ela destaca que há ainda muita subnotificação. Quando as imagens envolvem menores de idade, o crime é classificado como pornografia infantil. Já quando as imagens são de maiores de idade, o crime previsto pode ser o de injúria ou difamação ou então ser levado para a vara cível.

Por não confiar que haveria uma punição, Ana Beatriz Unello, 21, não quis denunciar um ex-namorado que divulgou suas imagens quando ela tinha 17 anos. "Eu não queria continuar essa história, ter de ir atrás dele e continuar pensando nesse assunto", afirma.

As fotos de Ana Beatriz foram divulgadas pelo ex-namorado após o fim do relacionamento. "Ele usava as imagens [capturas de telas de conversas pela webcam] para me chantagear a voltar para ele", conta. Após quatro meses de ameaças, o rapaz, que na época tinha 18 anos, criou um perfil falso em uma rede social para publicar as imagens da ex-namorada.

A jovem procurou ajuda na SaferNet quando o ex-namorado ainda fazia apenas ameaças e, por isso, foi orientada a pedir apoio para a família. "Ter meus pais ao meu lado foi fundamental. Porque foi essa a primeira coisa que eu pensei: que eu iria perder o amor, o apoio, o carinho deles. Só depois é que pensei na minha reputação, no que os outros iriam pensar, no meu emprego." Mesmo três anos após o vazamento das imagens, Ana Beatriz diz que ainda tem medo de que as fotos possam ser divulgadas novamente.

Temor
Juliana diz que o medo da volta das imagens persegue as vítimas por muitos anos, uma vez que não é possível saber se todas as cópias foram de fato apagadas. Na semana passada, o Google anunciou que vai retirar as fotos e vídeos de "pornografia de vingança" de seus resultados de busca se houver solicitação das vítimas. "Temos visto alguns avanços para proteger as vítimas, mas, ainda assim, elas não conseguem ter total segurança de que as imagens não voltarão à tona", diz Juliana.

Para ela, é preciso que seja feita uma mudança no comportamento machista da sociedade, que ainda trata as mulheres como culpadas por terem feito as imagens. "As imagens foram produzidas por elas, mas sua publicação não foi consentida. O erro não está em fazer as imagens, mas na divulgação."


Fonte: Mossoró HOJE 

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